Avanços tecnológicos permitem comunicação entre sonhadores, mas o impacto na saúde levanta alertas
(Foto: Divulgação)
O fascinante universo dos sonhos tem sido um campo de estudo intrigante para a ciência. Agora, com os avanços mais recentes, uma inovação que antes parecia pura ficção científica trouxe à tona não apenas novas possibilidades, mas também preocupações quanto à obsessão pela produtividade.
Em abril de 2021, um artigo na Current Biology trouxe evidências de que a comunicação bidirecional entre experimentadores e sonhadores durante o sono REM era possível. Nesse estado, pessoas em sonhos lúcidos conseguem responder em tempo real a estímulos externos por meio de movimentos oculares e musculares voluntários.
Mais recentemente, em 2024, a startup californiana REMspace deu um passo adiante. Usando sua tecnologia chamada Remmyo, dois participantes se comunicaram durante sonhos lúcidos, cada um em suas casas. No experimento, uma palavra aleatória foi enviada para um dos voluntários, que a repetiu no sonho, sendo corretamente identificada pelo outro participante ao despertar.
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Esse marco científico expande as fronteiras da pesquisa do sono, levantando questões sobre suas aplicações práticas no aprendizado e resolução de problemas.
“Trabalhe enquanto eles dormem?” A possibilidade de transformar sonhos lúcidos em ferramentas para desenvolvimento pessoal ou produtividade empresarial trouxe reflexões importantes. Segundo a startup REMspace, esses estados podem ser usados para aprendizado de novas habilidades ou até mesmo solução de problemas complexos.
No entanto, tal abordagem acende um sinal de alerta. A obsessão por produtividade tem causado um aumento alarmante de casos de burnout e estresse crônico. Dados do INSS revelam um crescimento de 136% nos afastamentos por burnout entre 2019 e 2023, enquanto buscas por sintomas relacionados a essa condição subiram 37% apenas em 2024.
Em uma sociedade que valoriza mais o "ter" do que o "ser", o descanso e o lazer parecem estar perdendo espaço. Enquanto startups e corporações exploram novas formas de otimizar o tempo e a produtividade, indivíduos enfrentam os custos dessa corrida incessante, incluindo doenças e desgaste emocional.
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Segundo dados recentes da OMS, 78% das mortes não relacionadas à COVID estão ligadas a condições crônicas não transmissíveis, muitas delas agravadas por estilos de vida estressantes. A busca incessante por conquistas pessoais e profissionais vem cobrando um preço alto.
A inovação proporcionada pelos sonhos lúcidos é inegavelmente promissora, mas levanta questões fundamentais: estamos dispostos a sacrificar o descanso, um dos pilares da saúde mental e física, em nome da produtividade?
Cabe a cada um de nós refletir e traçar limites claros entre o trabalho e o descanso, garantindo que avanços tecnológicos sejam usados para o bem-estar, não como mais um motor para a exaustão. Afinal, de que vale conquistar o mundo se perdemos nossa essência no processo?