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Crítica | Flow

Flow; uma animação minimalista que explora a natureza animal em sua forma mais pura


Flow
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(Foto: Divulgação)



"Flow", dirigido por Gints Zilbalodis, é uma obra singular no mundo das animações. Enquanto produções de grandes estúdios como Disney e DreamWorks frequentemente antropomorfizam seus personagens animais, dando-lhes vozes e comportamentos humanos, "Flow" se desvia desse caminho. Aqui, a essência de cada espécie é mantida intacta, criando uma narrativa silenciosa, mas profundamente evocativa, onde as ações e interações falam mais do que palavras. Este minimalismo, tanto na forma quanto no conteúdo, faz de "Flow" uma experiência única e imersiva.


A trama é simples, mas cativante. Após uma inundação devastadora em uma floresta, um grupo improvável de animais – um Gato solitário, um Cachorro brincalhão, uma Garça orgulhosa, uma Capivara e um Lêmure – se une para sobreviver. Sem diálogos, a conexão entre os personagens se desenvolve através de suas ações e reações instintivas, que são tanto cativantes quanto cheias de significado. Cada um deles é um rejeitado de sua espécie, mas juntos encontram um propósito comum: explorar e sobreviver em um mundo transformado.


Visualmente, "Flow" é uma obra de arte. A escolha de um estilo 3D simplificado, com texturas chapadas e cores desbotadas, cria uma atmosfera misteriosa e contemplativa. A estética lembra os jogos de Fumito Ueda, como Shadow of the Colossus, com paisagens vastas e desoladas que despertam tanto fascínio quanto melancolia. A perspectiva da câmera, sempre na altura do Gato, coloca o espectador no centro da experiência, reforçando o sentimento de vulnerabilidade e admiração diante do desconhecido.


O ritmo do filme é deliberadamente mais lento que o das megaproduções hollywoodianas, mas isso não diminui sua capacidade de cativar. Ao invés de apelar para cenas emocionais intensas, como é comum na Pixar, Zilbalodis opta por um tom mais reflexivo e curioso. A jornada dos animais é repleta de momentos de perigo, mas o foco está no deslumbramento de explorar um mundo pós-apocalíptico, onde estruturas humanas abandonadas servem tanto como desafios quanto como lembranças de um passado perdido.


Ainda assim, "Flow" não deixa de lado os temas universais. A construção da relação entre o Gato e o Cachorro é um destaque. O protagonista, inicialmente relutante, gradualmente abre espaço para a amizade do incansável e otimista Cachorro. Esse vínculo, embora sutil, é incrivelmente poderoso e simboliza a ideia central do filme: mesmo em tempos de adversidade, há força na união e no apoio mútuo.


Tecnicamente, a trilha sonora é outro ponto alto. Composta de forma a complementar o visual minimalista, ela mistura tons suaves e ritmos crescentes para intensificar o suspense e o maravilhamento em momentos-chave. Esse cuidado com a música eleva a experiência sensorial, tornando "Flow" ainda mais envolvente.


"Flow" não é uma animação para quem busca ação incessante ou narrativas convencionais. Em vez disso, é uma obra que convida à contemplação, desafiando o espectador a apreciar a simplicidade e a beleza da natureza e das interações instintivas. Com sua abordagem única e premiada no Festival de Annecy, o filme solidifica Gints Zilbalodis como um dos mais inovadores contadores de histórias visuais da atualidade.



 

Ficha técnica


Nome: Flow

Onde Assistir: Apple TV+

Categoria: Fantasia / Aventura

Duração: 1h e 25min


Nota 4.7/5


 

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